Do
Distrito para a Cidade
Final de
semana. Sábado tranquilo, mas o domingo:
- “toca para mim!” – “Chuta, cara!” – “É falta!” – “Juiz!” – “Goooool”.
Geralmente, são essas palavras que se escutam perto do campinho onde morava, um
lugar muito divertido e conhecido como o canto da “fofoca”. Não me perguntem a
origem desse nome, pois não sei explicar, no entanto sei que lá é o melhor
lugar para sentar e conversar com os amigos e quando a noite chega,
especialmente, se ela vem acompanhada de luz própria cujo brilho estende-se,
principalmente, aos raros casais que sabem saborear, ver e sentir esse conjunto
de sensações e, em seguida, compará-lo a
uma bela sinfonia, tudo se metamorfisa.
Somente as
almas, que tiveram sorte de não receberem a marca da cultura pós-moderna com
toda força representada do virtual, do global, do tecnológico e do cibernético,
podem compreender e viver a poesia desse lugar.
As ações
aqui contrastam com nome de batismo: campo da fofoca, mas, se há, ela se
realiza a partir do conceito dos antigos que nominavam de jogar conversa fora.
Esse é mais um ingrediente que se soma aos demais para completar a beleza desse
lugar. Se no final de semana era assim, durante a semana era sempre bom ler um
livro por lá e sentir o vento nos cabelos e um belo ar puro. Não posso esquecer
que, ao lado do campinho, há uma árvore bem grande, ela faz uma maravilhosa sombra
e era ótima para uma roda de estudo com os amigos. Tinha duas amigas: Ana e
Natália, éramos vizinhas e morávamos na ladeira principal que dá acesso ao
querido campo da fofoca. Para não deixá-lo mais curioso, quero lhe dizer que
esse lugar onde está esse campinho chama-se Japecanga, distrito de São José no
Estado do Rio Grande do Norte.
Num dia de
chuva, recebi a notícia de minha mãe que disse:
- Filha,
vamos mudar para uma cidade. Então pensei: vamos sair do distrito para a
cidade, vamos globalizar, vamos virtualizar, vamos cibernetizar... Era esse
mesmo o pensamento da minha mãe, devíamos possuir a marca da cultura
pós-moderna, também nominada de competência e muitas outras exigidas pelo
mercado atual. Meu campinho em Japecanga passaria agora a ser o que disse o
poeta mudando o lugar: “meu campinho agora é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói”!
A cidade na
qual vim morar trouxe o que os olhos de minha mãe enxergam: autonomia e essa
traz para mim uma liberdade, diferente daquela que meu campinho da fofoca me
dava.
No meu primeiro dia de aula, meu coração batia
acelerado, minhas mãos suavam, mas toda essa emoção não impediu de estar
sentada logo na primeira carteira da terceira fila. Minhas colegas ao lado me
olhavam e eu sentia-me estranha, era como se não pertencesse àquele lugar. Mas
tudo mudou quando ela disse:
-Oi! Então
respondi:
-Oi!
Quando falei
que era de Japecanga, ouvi risos... Porém, nada perturbava a felicidade daquele
momento. Era um professor indo, outro vindo, sala de informática, aulas com datashow,
biblioteca. Cada professor parecia sair de um Conto de Fada, pois todos
preenchiam tanto meu coração quanto meu cérebro. Então, pensei quanto meu
campinho de fofoca me ensinou também, pois, se estou hoje, escrevendo esse
texto meio lá e meio cá, foi porque ele existiu e transformou minha vida como
Parnamirim também minha cidade agora. Logo fiquei sabendo que essa cidade tem
um ponto turístico apreciado pelos visitantes. Conhecido como o maior cajueiro
do mundo, há também uma fábrica de botões: Bonor. Essa cidade possui muitas
praias bonitas e acolhe pessoas diariamente já que ela fica perto de uma grande
cidade.
Quando minha
professora falou da proposta desse texto, fiquei feliz, pois só assim poderia
materializar minhas experiências por meio de palavras. Unir duas pontas _ O lá
e o Cá; o passado e o futuro; o distrito e a cidade.
ALUNA: MERYELLEN DA
SILVA DE OLIVEIRA – 9º B