segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Cobrança (Moacyr Scliar)
Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente".
- Você não pode fazer isso comigo - protestou ela.
- Claro que posso - replicou ele. - Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
- Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
- Já sei - ironizou ele. - Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
- Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
- Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
Neste momento começou a chuviscar.
- Você vai se molhar - advertiu ela. - Vai acabar focando doente.
Ele riu, amargo:
- E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
- Posso lhe dar um guarda-chuva...
- Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
- Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
- Sou seu marido - retrucou ele - e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001.
* Usa 1ª pessoa do verbo, singular e plural
* Usa discurso direto no diálogo, verbos de dizer.*Traz aspectos de oralidade para a escrita: expressões de conversa familiar/initma, repetições, pronome você.* Partilha fatos cotidianos com seu leitor, dando singularidade a eles* Usa marcas de tempo e lugar que revelam fatos cotidianos.
Produção textual
“Escrevo sem
pensar tudo o que o
meu inconsciente
grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi”
Mário de Andrade (1893-1945)
Caros aluno(a)s, apesar de longo, o texto abaixo,apresenta o verdadeiro sentido de uma crônica, portanto leiam com os sentidos e a alma, não, necessariamente, com a razão.
Esses cronistas maravilhosos e suas palavras voadoras
Jorge Miguel Marinho
A história que agora passo
a contar do início
explica em grande parte
porque ainda acredito no
ser humano
-ô, raça!
A crônica aqui entre nós se casou tão bem com o espírito brasileiro, com a vontade de se confessar nas coisas miúdas e extrair delas uma história maior, com o calor afetivo de um povo que, espontâneo nos atos, se quer espontaneamente expressivo na linguagem também, com as necessidades de um país novo que busca a sua identidade com os olhos no mundo e um olhar mais decisivo no local, com aquela versatilidade camaleônica que precisa de muitas vozes e muitas formas de expressão para se auto-afirmar, com a pressa de leitura de um mundo que tem urgência de se ver e se reconhecer nas suas palavras e no seu lugar - que este gênero jornalístico, hoje significativamente literário, que ainda resiste a uma classificação formal, é tão presente no processo de formação da Literatura Brasileira e igualmente tão singular na afirmação das nossas Letras que se pode dizer, com segurança, que a crônica é um modo muito nosso de ser.
E de onde vem a crônica?
Machado de Assis, como a maioria dos nossos escritores, também foi cronista e, junto com José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo, fez parte do primeiro time de “cães farejadores do cotidiano” – numa expressão feliz de Antonio Candido para registrar a avidez pela “reportagem da vida” que progressivamente vai se tornar na nossa tradição literária um encontro único entre literatura e jornalismo, gênero que os escritores brasileiros dominam como poucos e, por que não dizer?, como ninguém.
Pois é o nosso Machado mesmo que, brincando seriamente e se autodenominando “escriba das coisas miúdas”, desvenda “O nascimento da crônica”, não por acaso numa crônica com este mesmo título, afirmando e fabulando com aquele humor inteligente que a natureza ou a origem da crônica nasce de uma trivialidade como exclamar “Que calor!”, para depois conjecturar “acerca do sol, da lua, da febre amarela, dos fenômenos atmosféricos” e outros calores da alma humana. E mais: que este tom tão trivial e aparentemente bisbilhoteiro da crônica é mais velho do que Esdras, Abraão, Isaque e Jacó, sugerindo para nós leitores que é mais velho até do que Noé que – por essas veredas da fábula, não é nenhum pecado imaginar -, muito provavelmente, se utilizou do ritmo exclamativo e prosaico da crônica para anunciar ou quem sabe irradiar a iminência do maior dilúvio de todos os tempos, ameaça ou notícia esta em que, com a graça de Deus, teve gente que acreditou.
É isto: por seu caráter de prosa, colóquio, confissão, comunicação imediata, “graça”, sentido telegráfico, urgência, trivialidade e até mesmo brincadeira ainda que o tema solicite o tom da seriedade, não dá para precisar em que época nasceu a crônica, mas é muito provável (e ainda quem nos alerta é Machado) que a crônica aconteceu pela primeira vez quando as duas primeiras vizinhas, depois das tarefas do jantar, se sentaram na porta de casa para papear sobre o dia e agarrar a transitoriedade da vida com palavras triviais e “voadoras” porque aparentemente dispersas, palavras com ar de coisa nenhuma, mas no fundo necessárias e urgentes como o impulso natural de comunicação entre dois amigos – escritor e leitor – que, se confessando no rés-da-calçada e nas miudezas da vida, revelam a complexidade da condição humana e a experiência única de viver.
Carlos Drummond de Andrade que, como Rubem Braga e Clarice Lispector, imprimiu poesia e estados de alma à crônica, diria melhor sugerindo por sua vez, num poema, o sentido atávico e até mesmo inexorável da linguagem como busca do outro e, por ser raiz e matéria tão antiga e presente na natureza humana, ilustra muito bem a origem remotíssima da crônica, para usar uma imagem nossa, “um vôo breve com o tempo da eternidade”, puríssimo diálogo:
Pois é o nosso Machado mesmo que, brincando seriamente e se autodenominando “escriba das coisas miúdas”, desvenda “O nascimento da crônica”, não por acaso numa crônica com este mesmo título, afirmando e fabulando com aquele humor inteligente que a natureza ou a origem da crônica nasce de uma trivialidade como exclamar “Que calor!”, para depois conjecturar “acerca do sol, da lua, da febre amarela, dos fenômenos atmosféricos” e outros calores da alma humana. E mais: que este tom tão trivial e aparentemente bisbilhoteiro da crônica é mais velho do que Esdras, Abraão, Isaque e Jacó, sugerindo para nós leitores que é mais velho até do que Noé que – por essas veredas da fábula, não é nenhum pecado imaginar -, muito provavelmente, se utilizou do ritmo exclamativo e prosaico da crônica para anunciar ou quem sabe irradiar a iminência do maior dilúvio de todos os tempos, ameaça ou notícia esta em que, com a graça de Deus, teve gente que acreditou.
É isto: por seu caráter de prosa, colóquio, confissão, comunicação imediata, “graça”, sentido telegráfico, urgência, trivialidade e até mesmo brincadeira ainda que o tema solicite o tom da seriedade, não dá para precisar em que época nasceu a crônica, mas é muito provável (e ainda quem nos alerta é Machado) que a crônica aconteceu pela primeira vez quando as duas primeiras vizinhas, depois das tarefas do jantar, se sentaram na porta de casa para papear sobre o dia e agarrar a transitoriedade da vida com palavras triviais e “voadoras” porque aparentemente dispersas, palavras com ar de coisa nenhuma, mas no fundo necessárias e urgentes como o impulso natural de comunicação entre dois amigos – escritor e leitor – que, se confessando no rés-da-calçada e nas miudezas da vida, revelam a complexidade da condição humana e a experiência única de viver.
Carlos Drummond de Andrade que, como Rubem Braga e Clarice Lispector, imprimiu poesia e estados de alma à crônica, diria melhor sugerindo por sua vez, num poema, o sentido atávico e até mesmo inexorável da linguagem como busca do outro e, por ser raiz e matéria tão antiga e presente na natureza humana, ilustra muito bem a origem remotíssima da crônica, para usar uma imagem nossa, “um vôo breve com o tempo da eternidade”, puríssimo diálogo:
Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
Dialogamos
Só para iluminar mais a simplicidade e a sutileza, por vezes, até refinada da crônica, é quase uma sorte poder recorrer também às palavras de Manoel de Barros, hoje carinhosamente acolhido por leitores de todas as idades como “o grande poeta das coisas pequenas”, entendendo que ele levou a “herança e a ciência da crônica” para os seus poemas em prosa e avisa, com voz de cronista, que “Para apalpar as intimidades do mundo”, labor precioso da crónica, “é preciso saber que o esplendor da manhã não se abre com faca” e que, no jogo literário, a gente tem de saber muito bem “como pegar na voz pegar na voz de um peixe. Enfim, como pegar com as palavras as pequenas coisas, agarrar o grande com a sabedoria do miúdo, revelar a dimensão humana nas suas porções mínimas, escutar a vida cotidianamente, atenções estas presentes em todos os tempos e em todas as formas literárias, mas em nenhum deles com o sentido de permanência, a singularidade e o ‘à vontade’ do ofício de ser cronista.
Comunicação e intencionalidade discursiva
Celebração da desconfiança
No primeiro dia de aula, o professor trouxe um vidro enorme:
– Isto está cheio de perfume – disse Miguel Brun aos outros alunos. – Quero medir a percepção de cada um de vocês. Na medida em que sintam o cheiro, levantem a mão.
E abriu o frasco. Num instante, já havia duas mãos levantadas. E logo cinco, dez, trinta, todas as mãos levantadas.
– Posso abrir a janela, professor? – suplicou uma aluna, enjoada de tanto perfume, e várias vozes fizeram eco. O forte aroma, que pesava no ar, tinha se tornado insuportável para todos.
Então o professor mostrou o frasco aos alunos, um por um. Estava cheio de água.
Fonte: GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: LP&M, 2002, p.156.
Numa situação de comunicação, há, pelo menos, duas pessoas interagindo por meio da linguagem, os chamados interlocutores. Aquele que produz a linguagem é chamado de locutor; aquele que recebe a linguagem é chamado de locutário.
O professor exerce o papel de locutor e os alunos exercem o papel de locutários ou interlocutores.
Para que a comunicação se realize com sucesso, é necessário que cada um dos interlocutores compreenda bem o que o outro diz.
Em resumo, o professor comunica que vai medir a percepção dos alunos e para isso abrirá um vidro de perfume. Apesar de compreenderem bem a mensagem do professor, os alunos pensaram ter sentido o cheiro de perfume.
Na verdade, não havia perfume nenhum no vidro, logo as ideias do texto são justificadas pelo título do texto “Celebração da desconfiança”. É necessário que desconfiemos de nossos próprios sentidos, julgamentos e verdades, pois podemos estar sendo influenciados por outras pessoas.
Você observou no conto lindo que, entre o professor e seus alunos, verifica-se uma situação de comunicação. Todo ato de comunicação envolve sempre seis componentes essenciais. Veja quais são eles a partir dos dois primeiros parágrafos do texto:
· o locutor é o professor: aquele que diz algo a alguém
· o locutário são os alunos: aqueles com quem o locutor se comunica
· a mensagem é o texto (Isto está cheio de perfume. Quero medir a percepção de cada um de vocês. Na medida em que sintam o cheiro, levantem a mão); o que foi transmitido entre os interlocutores.
· o código é a língua portuguesa: a convenção que permite ao interlocutor compreender a mensagem
· o canal (ou contato) é a língua oral (som e ar); é por meio físico que conduz a mensagem ao interlocutor;
· o referente (ou contexto) é, em princípio, o desejo do professor de medir a percepção dos alunos e, depois, mostrar-lhes como podemos nos deixar enganar: o assunto da mensagem.
Tarefa Proposta
1- Identifique, nos textos abaixo, os trechos que revelam o trabalho do Sujeito com a Linguagem. Em seguida, descreva os recursos de Linguagem utilizados e os efeitos de sentido que resultam de sua utilização.
TEXTO 1
Pode ter
Pode ter compaixão no inferno.
Pode ter vida no espaço.
Pode ter eternidade na vida.
Pode ter luz no escuro.
Pode ter som no rádio.
Pode ter cores no branco.
Então, por que as guerras, as lutas e brigas,
Se pode ter paz na humanidade?
G.W.A., 10 anos, 4ª série do Ensino Fundamental
TEXTO 2
Só quem tem mais de quarenta anos de picadeiro
pode ter o domínio completo do espetáculo. Desde a sua fundação, a Ortopé dá um verdadeiro show de qualidade, tecnologia e pesquisa. No seu elenco se encontra a maior e mais completa linha de calçados infantis da América Latina, desenvolvida para conquistar a confiança dos pais e agradar a crianças de todas as idades. A Ortopé também sabe que uma empresa deve acrescentar amor e carinho em tudo que produz. E esta é a filosofia de quem sempre foi criança toda vida.
Propaganda publicitária na revista Veja
TEXTO 3
Dê uma roupa da hora pra quem não pára de crescer só um minuto.
Propagando de roupas para crianças publicadas na revista Veja
Bibliografia
ABAURRE, Maria Luiza e Pontara, Fadel - Portugês Língua e Literatura. Editora Moderna. Volume único.
Sujeito e Linguagem
A linguagem é, muitas vezes, uma arena onde se digladiam intenções e expectativas opostas. Palco de ambiguidades, de duplos sentidos, de implícitos, por vezes até de silêncios disfarçados de palavras, a linguagem é também fonte frequente de mal entendidos. Você já não passou por situações em que seus interlocutores pareciam estar afirmando uma coisa, mas de fato queriam dizer outra? Pois é! Isso, na verdade, é muito mais frequente do que se imagina... Mas, se assim é, como entender esse modo de funcionamento da linguagem?
Para responder a essa questão, é preciso chamar a atenção para uma característica marcante da linguagem. Ela é indeterminada. O que se quer dizer com isso é que a responsabilidade por dizer ou não dizer algo, pelo grau de explicitação a que se quer chegar, pela escolha de enunciados ambíguos ou não ambíguos, é do Sujeito, que tem sempre um trabalho a realizar a partir das possibilidades que a língua coloca à sua disposição. Em outras palavras, dada uma determinação situação de interlocução, caberá sempre ao Sujeito escolher os enunciados que melhor se ajustem aos seus propósitos interacionais. Assim, se desejar colaborar com o Outro (seu interlocutor), escolherá enunciados que não o confundam, que deixem claros seus pontos de vista, que efetivamente respondam às perguntas feitas, e assim por diante.
Observe um exemplo tipo de trabalho do Sujeito com a Linguagem, característico do chamado discurso humorístico. A manipulação, nos exemplos abaixo, dá-se no nível morfológico. O humorista altera a forma dos radicais de conhecidas palavras da língua, neles introduzindo outros radicais que trazem consigo outros significados. Da combinação do significado desses novos radicais com o significado original daqueles aos quais eles são associados, resulta o efeito humorístico pretendido:
Dicionovário
(Palavras Que Precisam Ser Inventadas)
Abacatimento: Redução no preço do abacate.
Anãofabeto: Pequenininho que nem sabe anotar o nome.
Assassinatura: A rubrica de um criminoso de morte
Caligrafeia: Letra ruim
Calvício: Mania de estar ficando careca
Cãodução: Carrocinha de cachorro.
M.C.R.A. Paulillo. Literatura Comentada: Millôr Fernandes
RESUMINDO
A linguagem só existe porque o ser humano é capaz de pensar, de raciocinar. Somente o ser humano é capaz de realizar atividades cognitivas, ou seja, interpretar, logo formula ideias, faz relações. Tudo isso só acontece devido à interação do ser humano com o meio em que vive. Esse tipo de interação acontece entre duas ou mais pessoas ou entre duas ou mais coisas. Veja que o ser humano está em constante diálogo como tudo em volta dele. Sendo assim, ele está sempre construindo conceitos e apresentando pontos de vista da leitura que ele faz do mundo.
Alguns conceitos de linguagem
Linguagem: é a capacidade humana de se comunicar por meio da língua.
Linguagem: é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade, seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana.
(Louis Hjelmslev)
Linguagem: é a capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los(...). A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido.
(Parâmetros Curriculares Nacionais)
Bibliografia
ABAURRE, Maria Luiza e Pontara, Fadel - Portugês Língua e Literatura. Editora Moderna. Volume único.
Querido(a)s aluno(a)s, este blog foi criado com a intenção de ajudá-lo(a)s a revisar os assuntos discutidos em sala de aula. Espero que apreciem e comentem os tópicos apresentados. Lembrem-se de que o desenvolvimento humano está diretamente relacionado ao desenvolvimento da linguagem como também a evolução dela acontece por meio do desenvolvimento das potencialidades humanas.
Estudem e um abraço!
Na abertura de sua obra Política, Aristóteles afirma que somente o homem é um “animal político”, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais, escreve Aristóteles, possuem voz (“phone”) e, com ela, exprimem dor e prazer, mas o homem possui a palavra (“logos”) e, com ela, exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir e possuir em comum esses valores é o que torna possível a vida social e política e, dela , somente os homens são capazes. Marilena Chauí. Convite à Filosofia
O texto acima chama a atenção para o fato de que uma das diferenças marcantes entre o ser humano e os outros animais é a faculdade da Linguagem. Se o ser humano não possuísse linguagem, não poderia sequer formular mentalmente questões, quanto mais explicitá-las. O ser humano emite opiniões, faz questionamentos, exprime sentimentos, demonstra desejos porque possui a faculdade inerente a ele: a linguagem.
Diferença entre a linguagem animal e a linguagem humana
A linguagem animal, constituída pela emissão de sons e comportamentos determinados, permite e garante sobrevivência e a perpetuação das espécies. Há, porém, uma diferença entre a linguagem animal e a linguagem humana. Enquanto a primeira é estática e condicionada, não consciente, a segunda é fruto do raciocínio, e a expressão por meio dela é consciente e intencional, não meramente instintiva. E mais, a linguagem humana é dinâmica e criativa.
Num primeiro momento, podemos definir linguagem humana como todo sistema que, por meio da organização de sinais, permite a expressão ou a representação de ideias, desejos, sentimentos, emoções. Essa representação possibilita leitura, o que concretiza a dinâmica de interação, da comunicação e, consequentemente, da socialização. Num segundo momento, podemos defini-la como a capacidade inerente ao homem de aprender uma língua e de fazer uso dela.
Cabe observar que o que se costuma designar como “linguagem” animal (das formigas, das abelhas) não passa de um sistema de comunicação entre os membros de uma espécie. Embora muito sofisticados, tais sistemas não chegam a constituir linguagem no sentido aqui definido, uma vez que falta aos animais a consciência de que usam um sistema de signos para comunicar-se com seus semelhantes. Por essa razão, tais sistemas não podem ser vinculados a atividades cognitivas como a interpretação e representação da realidade.
Bibliografia
ABAURRE, Maria Luiza e Pontara, Fadel - Portugês Língua e Literatura. Editora Moderna. Volume único.
Assinar:
Postagens (Atom)