domingo, 27 de fevereiro de 2011

Contra Argumentação


Existem pelo menos três formas muito frequentemente empregadas para se argumentar e/ou contra-argumentar:
     1ª) buscar as causas a fim de sustentar um ponto de vista;
     2ª) fazer concessões para que se possam marcar ressalvas ou tentar conciliar com o interlocutor, reconhecendo, desse modo, parte da verdade que este defende;
     3ª) levantar hipóteses para se confirmar uma tese.
Imaginemos um tema a possibilidade de legalização da maconha em nosso país.

Contexto:
Embora no Brasil, de acordo com o Código Penal, o consumo de drogas ilícitas, entre elas a maconha, seja considerado crime, percebemos um aumento de cannabis sativa e uma concomitante diminuição de condenações dos usuários. Em razão disso, a possível legalização dessa droga vem sendo questionada já que as evidências apontam haver maior tolerância por parte da sociedade e maior flexibilidade por parte do judiciário. A questão, longe de ser pacífica, é alvo de muita polêmica.
Como exercício de contra – argumentação, sugerimos que você observe os argumentos favoráveis e os desfavoráveis, descritos abaixo.
               ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À LEGALIZAÇÃO
    ·o usuário necessita de ajuda, e não de repressão;
    · o usuário não é criminoso; portanto não deve ser afastado do convívio social;
    ·  outras drogas são mais perigosas ao organismo, como no caso do álcool; este é, também, causador de inúmeros acidentes de trânsito ou casos de violência;
·  trata-se de um caso de saúde pública cujo objetivo deve centrar-se na prevenção.

            ARGUMENTOS DESFAVORÁVEIS À LEGALIZAÇÃO
  • consequências maléficas ao organismo e ao psiquismo: perda da capacidade cognitiva; falta de motivação para realizar projetos de vida; comprometimento do bom fundamento de órgãos  como pulmão; problemas de garganta;

  • conseqüências no âmbito social: aumento do índice de criminalidade (não      pelo uso, mas pelo tráfico); pode servir de “passagem” para o uso de drogas mais pesadas, tais como cocaína, heroína, entre outras; desestruturação familiar.


           CONCLUSÃO (deve ser centrada na prevenção, tanto nos casos pró ou contra a legalização)
  • reprimir apenas não basta: é necessário ajudar o dependente;
sugestões para a prevenção:
   Ø aplicação de penas alternativas ( desde a obrigação a frequentar  cursos antidrogas até a obrigatoriedade ao tratamento);
   Ø nas escolas: programas de prevenção com especialistas tais como psicólogos, pedagogos; reformulação curricular (introdução do tema em diversas disciplinas do currículo);
    Ø nos postos de saúde, hospitais, clínicas: programas, incluindo participação dos familiares dos dependentes, em palestras; atendimento de orientação a esses familiares e ao dependente, através de especialistas da área médica

Se você for desfavorável à legalização da maconha, a relação A é causa de B poderia ser
assim esquematizada:    

Pensemos que você opte por escrever contra – argumentando as idéias daqueles que são desfavoráveis à legalização da maconha, poderia refutar tal idéia seguindo o raciocínio (A não é causa de B)        

Vejamos outra situação:
Se alguém for favorável à legalização da maconha, a relação A é causa de B poderia ser assim esquematizada:

A violência e a crise da segurança pública


De acordo com recentes pesquisas, entre elas a Datafolha, uma das maiores preocupações dos brasileiros é a violência. A situação tornou – se tão grave que os números referentes aos crimes lembram o cenário de uma guerra civil. Além do aumento da quantidade de delitos, a brutalidade destes causa perplexidade profunda à sociedade.

É muito comum julgar a pobreza como causa principal da violência. Porém, existem países ainda mais pobres que o Brasil nos quais os níveis de subversão permanecem baixos, como se constata na índia; outros onde o nível de desenvolvimento econômico é mais alto mas o índice de criminalidade também o é, fato existente, por exemplo, nos EUA. Isso indica que, no caso brasileiro, a violência brasileira não é ocasionada  sobretudo pela pobreza, mas é fruto de duas características nacionais: a desigualdade social e a impunidade. A disparidade entre a condição social dos mais ricos e as dos mais pobres é tanta que muitos, por ambição ou falta de oportunidade, optam por o crime como forma de ascensão social. Soma – se a isso a certeza da impunidade, causada por uma polícia sucateada e corrupta e uma Justiça lenta e parcial.

Diante de tal situação, a população sente – se cada vez mais acuada. Com medo de torna – se vitima, e, sem poder contar com a polícia, o cidadão não–criminoso tranca–se em casa e abre mão do seu direito de ir e vir. A população, devido à ineficiência do Estado, busca meio para protege- se; aqueles que podem, contratam seguranças particulares – atualmente eles formam um continente maior que a própria policia – enquanto os demais constroem “prisões” para proteger seu patrimônio.

A situação, sem dúvida, é emergencial. Para revertê-la, torna- se necessário erradicar as principais causas do problema: punir os criminosos e amenizar as desigualdades sociais. A fim de reprimir a criminalidade, a policia deve sofrer um processo de reciclagem para poder agir duramente com os bandidos, e não punir os cidadãos não–criminosos. Também é preciso investir em educação, chave pela melhoria das condições sociais da população.  

VAMOS ENTENDER MELHOR

Vamos levar em conta o texto “Big Brother Brasil” de Luís Fernando Veríssimo que vocês já conhecem.
Imaginemos, que alguém opte por escrever defendendo a tese de Fernando Veríssimo. Para isso, vamos estabelecer uma relação – A é a causa de B poderia ser assim esquematizada:

Mas, vamos imaginar que alguém queira refutar, ou seja, negar a tese de Veríssimo
Podemos imaginar a seguinte situação:
&   Mesmo que não se assista a esses programas e eles não sejam exibidos, a banalização dos valores morais continuaria

A ideia pode ser expressa da seguinte forma:
;1 1- Retomando a tese do “adversário”
Existe uma forte tendência / muitos acreditam que responsabilizar programas televisivos “apelativos”, por exemplo, Big Brother Brasil pela banalização dos valores morais, diminuiria atitudes que ferem a dignidade humana.
& 2-Refutação, através de concessão, levantamento de hipótese, causas, apontando para resultados contrários
Em verdade /no entanto / não obstante / Apesar disso, atitudes antissociais continuariam a existir mesmo que esses programas não fossem mais veiculados, pois a sociedade atual presencia a democratização das informações e luta, cada vez mais, pela liberdade de expressão.
 Conclusão
Dessa forma / Desse modo/ Assim, a explicação segundo a qual a não veiculação desses programas diminuiria ou acabaria com a banalização dos valores morais não procede / não pode, pois, ser sustentada.




domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sociedade, cultura e língua

Atividade
O texto abaixo é do jurista Walter Ceneviva, que, tendo por base o novo código civil, comenta a discriminação contra a mulher.


Sociedade, cultura e língua
Quando você conversa com pessoas bem mais velhas, percebe que elas têm um modo de pensar diferente do seu, não é? O mesmo acontece quando você tem mais informações sobre como vivem pessoas que nasceram em países distantes, com costumes diversos do nosso. Essas diferenças dependem da cultura, isto é, o conjunto de formas de dizer, pensar e sentir de uma pessoa ou de uma sociedade.
                      Guarde duas idéias importantes:
1.       A cultura muda no decorrer do tempo e depende do lugar: é uma construção social e histórica;
2.       A língua é um dos elementos que expressam fortemente a cultura e que contribuem para transformá–La    
Portanto sociedade, cultura e língua interferem continuamente uma na outra.
Você vai ler um texto, publicado pouco antes do novo código civil, que é um exemplo do que afirmamos.
Sabe o que é o código civil? É um conjunto de leis que se referem às pessoas e as atividades essenciais que fazem parte da sociedade humana. O Código civil inclui todas as normas consagradas ao longo do tempo, podemos, no entanto modificá-las para se adequarem a mudança dos costumes e as necessidades sociais. O Código civil seria uma espécie de “constituição do Homem Comum”.
Agora, leia o texto.
O código civil de 1916, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1917, privilegiou claramente o masculino, como era o uso ao seu tempo. O pai era o chefe da sociedade conjugal, a mulher casada era relativamente incapaz, a gerência e a administração dos bens eram do marido e havia longuíssima enumeração dos requisitos do dote, constituído pela noiva, por seus pais ou por estranhos, a ser administrado exclusivamente pelo marido. O dote poderia compreender todos os bens da noiva na data do casamento e os que ela, no futuro viesse a adquirir. (...)
O preconceito, porém, não terminava aí. A palavra homem foi tomada na lei brasileira durante grande parte do século 20 como significando a pessoa titular de diretos, enfim, o ser humano. A rigor, continuará a existir até o fim deste ano, quando terminará a vigência do código de 1916, cujo artigo 2º diz: “Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil”. (...)
As mudanças que começaram a viger em 1º de janeiro próximo eliminaram expressões impróprias e discriminadoras. Assim, o artigo 1º passará a dizer que “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. O critério para a capacidade civil é o mesmo para homens e mulheres. (...)
O novo artigo 1565 dirá tudo a respeito da igualdade no casamento. O homem e a mulher serão “consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos das famílias”. Nem mesmo substituirá a tradicionalíssima imposição de a mulher adotar o nome de família do marido ou, no Maximo, manter o nome de solteira. A contar do ano que vem, qualquer dos noivos, querendo, poderá acrescer o sobrenome do outro no seu. Seja o dele, seja o dela. (...)
Ceneviva,Walter. “Código Civil amenizará diferenças de sexo”.
Folha de S. Paulo, caid. cotidiano, seção letras jurídicas, 17/08/2002, P.2.


         
Orientação para responder a atividade e ler o texto

Querido (a)s aluno (a)s, geralmente, vocês pensam que somente a leitura do texto propriamente dito é suficiente para entender seus significados. Na verdade, essa ideia funciona em casos raros. Vejam algumas observações e respondam a atividade.
1.    Observem as informações que “rodeiam” os textos: introduções, enunciados de questões, indicação bibliográfica. Embora externas ao texto, elas trazem contribuições preciosas para o entendimento dele. É útil grifar palavras ou expressões reveladoras de aspectos importantes do texto. No caso do artigo de Walter Ceneviva, é indispensável prestar atenção aos advérbios antes, que aparece no enunciado introdutório, e que ajuda a responder a responder a questão 1b. A indicação bibliográfica traz pistas essenciais à resposta dos itens da questão1.
2.    Observe que, mesmo em situações corriqueiras, a língua denuncia o formato conservador da família brasileira e o preconceito contra a mulher: o homem costuma referir-se a esposa como “Minha mulher”: o uso do possessivo (minha) indica a condição de possuidor; no entanto, a esposa não alude o marido como “meu homem”...
Responda:
Antes de procurar entender o texto, preste atenção à informação que vem imediatamente após ele: quem o escreveu, título, qual é o suporte (livro, revista, jornal, folheto, site, etc. ), Seção e data de publicação.
1-   
a)    Qual é o título do texto?
b)    O novo Código Civil entrou em vigor em 1º de janeiro de 2003, portanto, o fato já aconteceu. Por que então o verbo do título está no futuro?
c)    Em que tipo de suporte o artigo foi publicado?
d)    A que área do conhecimento o texto pertence?
e)    Qual é o dialeto usado pelo autor? Por que ele é adequado?
2-    O texto refere-se à discriminação no código civil. De que tipo?
3-    Como a linguagem do código civil de 1916 exprimia tal preconceito?
4-    De 1916 para cá, o modo de entender o papel da mulher na sociedade mudou. Encontre no texto um exemplo de que a língua acompanha a mudança de costumes.
5-    Pense na comunidade em que você vive. É difícil, talvez mesmo impossível, existir alguma em que pessoas não faça discriminações de nenhuma espécie. Você sabe que a linguagem “mostra” a discriminação, os preconceitos de quem a usa. Liste as palavras ou expressões  da linguagem oral que exprimem os preconceitos existentes na sua comunidade.